Foi nessa onda que, há dois anos, estreou "Heroes". Já houveram tentativas de séries "super-heroísticas". Mas nenhuma estreou com o "hype" de Heroes. Pra começar, nada de uniformes coloridos e máscaras. Apenas pessoas comuns com poderes especiais, o que chama bastante o público não ligado em quadrinhos. Em segundo, o clima pegando carona em "Lost". Sim, porque acima da discussão de qual das duas séries é melhor, é indiscutivel que os primeiros episódios de Heroes em muito lembram os da série da Ilha maluca. Os mistérios, o clima soturno, os personagens interligados.
Porém a série pescou o público exatamente indo contra o que sua concorrente e irmã mais velha se dispõe a fazer. Enquanto Lost guarda os segredos revelando-os de forma aleatória como um imenso quebra-cabeças, Heroes se baseou em curtos arcos em que um mistério é revelado em seguida do outro. Essa agilidade da primeira temporada, aliada às cenas impactantes (de arrepiar ver Claire acordando no necrotério com a barriga aberta) fez o sucesso da temporada de estréia. A dubialidade de caráter de quase todos os personagens também são o diferencial da série. De heróis mesmo, daqueles tipo bonzinhos ao extremo e totalmente dedicados a ajudar os outros, apenas Peter Petreli e Hiro. Os demais, de altruistas, tem muito pouco.
Heroes tem um charme legal e personagens cativantes - claro que com excessão do insuportável Mohinder - com destaque ao Sr. Bennet e o marvadão Sylar.
E falando em Sylar, que vilão putaquepaiumente bem feito. Destaque total para Zachary Quinto que deu uma interpretação psicótica ao maluco. Suas primeiras aparições são de arrepiar, e quando ele se revela por inteiro, te faz largar um "agora fudeu..."
Bom, a trama de Heroes, basicamente, mostra pessoas comuns com poderes especiais, se encontrando e descobrindo suas habilidades enquanto paralelamente descobrem através de sinais que precisam se unir para evitar uma catástrofe na cidade de Nova York. Os heróis mudam de lado e de interesses constantemente e muitas vezes quem você acredita ser do mal se revela um benfeitor. Em muitos momentos, aliás, a ameaça da temporada lembra a clássica Watchmen, de Alan Moore.
Bem, mas se a primeira temporada foi cheia de aventura e reviravoltas (apesar de cena final meio podreira), a segunda temporada demorou a engrenar. Hiro foi parar no Japão Feudal num subplot chato bagaraio. Peter Petreli perdeu a memória e foi parar na Irlanda, em outro subplot tão chato quanto. Mohinder continuou sendo chato. Claire arranjou um namoradinho e... bom, chato. Ah, e outros personagens estrearam. Adivinha só? Isso mesmo. Chatos.
A temporada fica ótima a partir do episódio 8 - Four Months Ago - que mostra o que aconteceu entre a primeira e a segunda temporada - algo que poderia ter sido mostrado antes ao invés das enrolações que foram os sete episódios anteriores. A estréia de Kirsten "Veronica Mars" Bell também ajudou, pois sua Elle trazia toda a ambiguidade natural dos personagens de Heroes. O final da temporada foi meio broxante, como o da primeira, mas pelo menos deixa um gancho incrivelmente fodástico para a terceira.
Vejamos então os poderes de Heroes: além de um clima agitado e pop, com um hype muito parecido com Lost, tem uma identidade própria e personagens interessantes. Reviravoltas chocantes, mistérios com respostas e foge do esquema "capitulos fechados", que para uma série deste tipo apenas diminuiria em muito seu valor e qualidade. Além disso tem episódios absolutamente fascinantes, como o supra-citado "Four Months Ago" e "Five Years Gone", da primeira temporada. Além do que trata de um tema extremamente nerd mas preparado e temperado com uma embalagem que agrada uma parte muito maior da audiência do que apenas o nicho dos apreciadores de quadrinhos.
Mas Heroes também tem suas "kriptonitas". O texto, convenhamos, peca muito. Existem furos de roteiro gigantescos, que temos que engolir pra podermos nos divertir. A idéia de usar superpoderes como base pode ser um tiro pela culatra, por um motivo apenas: alguns personagens são praticamente Overpower. Hiro pode voltar, avançar e parar o tempo, além de poder se deslocar pelo espaço a sua vontade. O que no inicio nos brindou com cenas geniais, como a do metrô, em que ele vai parar em Nova York, e logo após a descoberta que ele está no futuro, no dia da catástrofe em NY, foi se tornando uma bola de neve - por que ele simplesmente não volta ou para o tempo toda vez que algo dá errado? Peter Petreli e Sylar idem. Os dois podem absorver e armazenar indefinidamente os poderes de outras pessoas - o primeiro apenas chegando perto de quem os tenha, o segundo fazendo alguma coisa com o cérebro deles. Ok, eles tem TODOS os poderes. Quer dizer que eles podem fazer absolutamente QUALQUER COISA. Ler pensamentos, voar, viajar no tempo, atravessar paredes, regenerar, chupar cana e assoviar ao mesmo tempo. Mas raramente os vemos fazer isso. Inclusive a tal cena broxante nos finais das duas temporadas se deve exatamente a isso. E pra terminar, a quantidade absurda de personagens e plots inúteis. Nikki / Jessica não disse a que veio em nenhuma das duas temporadas. Seu filho Micah, mesma coisa (aliás, porra que menino pentelho). E Mohinder ... o que dizer desse professor Xavier de araque? Chato, chato, chato e inútil...
Bom, Moura recomenda que você assista Heroes, conheça um pouco e veja se vale a pena acompanhar. É com certeza uma série com altos e baixos, mas o resultado final diverte. Não é um quebra-cabeça como Lost e nem uma banalidade como Smallville. Fica no meio, como um entretenimento inteligente, sofisticado, mas simples e objetivo. Mesmo com suas falhas, vale muito a pena ser assistido.
Até semana que vem.
14 comentários:
Primeiro! Passa o café por favor...
Expresso ou capuccino?
Capuccino é bem melhor!
Tem carioca tb.
Qualquer coisa menos irish cofee... ô troço ruim!
Tipo..alguém Leu a coluna do Moura? (risos).
Boa análise, como sempre, Sr. Moura. Eu adoro Heroes, independente dos furos, pois é para se divertir e não ficar fanático como certos loucos que tem por ai.
Olha, ao contrário do Moura, eu gostei muito do final da primeira temporada de Heroes. Vale lembrar que a proposta da série sempre foi uma série dramática, focada nas pessoas, e não uma série de super-heróis; nesse ponto, o final foi muito eficiente, pois ele lidava com todo aquele sentimento de finalmente chegamos ao ponto em que queríamos, e agora?
Lembro de ter gostado muito numa cena do final quando Peter vai com Claire até seu irmão mais velho(depois da Claire ter contado que o Nathan estava de conchavo com os "caras maus"), e a claire xinga ele pra caralho e pergunta "porque? Porque essa necessidade de ver seu irmão?", e Peter diz "Porque eu estou com medo, tá legal?!"
E essa frase resume tudo o que Heroes é. Pessoas comuns, que ganham poderes não vão simplesmente botar um uniforme e sair combatendo o crime. Por mais que você pense que está destinado à uma coisa, quando ela finalmente chega, e principalmente se suas ações valem a vida de milhões de pessoas, se você não ficar com o C* na mão, então vc não é humano.
Sei que as pessoas esperavam mais efeitos especiais, mas esse nunca foi o foco da série, a culpa é dos próprios espectadores, que criaram expectativas ilusórias que nunca foram dadas pelos produtores da série.
Num geral, como sempre, ótima matéria, Moura!
P.S.: A segunda temporada foi uma meeeeeeeeeeeeeerda mesmo. Có recomendo a primeira temporada.
Eu li a matéria, achei bem legal, mas como nunca vi heroes na vida, fiquei realmente sem ter o q falar de útil sobre o assunto...
Afinal, QUAL CAFÉ FOI ESCOLHIDO, POURRA?
"Sei que as pessoas esperavam mais efeitos especiais, mas esse nunca foi o foco da série, a culpa é dos próprios espectadores, que criaram expectativas ilusórias que nunca foram dadas pelos produtores da série."
Mas tipo, você não concorda que com aquilo tudo de bomba explodindo, dois mega-fodas humanos com poderes overpowers (Sylar e Peter) indo para um confronto, não era de se esperar que o público cria-se a expectativa de um grande embate com "fogos de artificio"?
Eu também não achei de todo ruim o fim, ele fala isos que vc disse msmo: Sobre pessoas e não heróis. E é uma temática que gosto muito, a mesma tratada numa HQ de Brian Woods (autor de DMZ) chamado "Demo", onde mostra pessoas com poderes, mas que isso não quer dizer que seja bom para elas.
Oras, café expresso... do oriente. [música dos trapalhões]
Aí é que tá, Star, eu nunca esperei isso do final da temporada, mesmo com todas as características que você disse justamente porque o motivo de eu assistir Heroes era justamente não se obrigar a fazer esse tipo de coisa. o final foi bem o que eu esperava: intimista, pessoal (oh, redundância) e psicológico.
Ms tem um agravante: os produtores queriam fazer um final um pouco mais bombástico, mas a NBC cortou as asinhas deles, então eles tiveram que jogar com as cartas que tinham.
"Mas tem um agravante: os produtores queriam fazer um final um pouco mais bombástico, mas a NBC cortou as asinhas deles, então eles tiveram que jogar com as cartas que tinham."
POis é, sempre as produtoras fazendo das suas. Tb assistia Heroes como vc por isos nao me decepcionou tanto.
George Clooney disse: " ...seria um ano excelente pra Hillary Clinton, com certeza ela seria a melhor candidata, se não houvesse um Barack Obama"
Eu digo "Heroes seria fantástico,se já não existisse LOST"
E eu digo, café de mais me dá gazes!
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